Tudo e Nada

No desdobramento da vida, aos poucos se descobre que o tudo que se parece ter não é um nada. O tudo que se parece ser não é um nada diante do grande universo que manifesta a sua amplitude.

Entre estes dois polos do “tudo e nada” existem uma tensão do viver, do ar que se inspira e expira a cada segundo, a cada decisão que a vida convida a seguir em vista do horizonte que desponta nos pequenos raios da esperança que clareia os passos a ser vivenciados.

O viver os dois polos do dia dedicado a “todos os Santos” e no dia seguinte se deparar com o “dia de Finados” convida o ser humano a debruçar na questão de sua existência; nas suas buscas, nas suas escolhas, nos projetos que dispensa energias; nas tentativas sempre com o intuito de viver a felicidade nos seus atos de concretude.

O tudo só terá sentido se conseguir perceber que o nada faz parte de sua existência – no entregar-se ao fim certo que é a morte. Tudo que o “é” terá mais intensidade do que o verbo “ter” se realmente conseguir ir além do se tornar um grão que morre e, ao seguir os exemplos dos que já se foram, deixaram rastros de santidade; isto é, aqueles que depositaram toda a intensidade do viver na tentativa de viver a felicidade transcendente que também se manifesta no imanente. O invisível se manifesta no visível; o entrelaçamento da trama da vida deixará um perfume refinado da felicidade vivida entre a entrega do tudo ao nada, na certeza que assim o tudo preencherá o nada.

Nesta tensão entre o “tudo e nada” se manifesta nas mais diversas formas, como que uma nota musical indica uma musicalidade maior a ser desvelada. E, quando esta tocada com harmonia, traz para o músico bem como para todos que aguçados escutam a mesma. E, provoca um ecoar da divindade; preenche o ser e irradia de felicidade.

Assim sendo, é bom se inebriar deste grande mistério do “tudo e nada” para deixar se manifestar o grande mistério da vida. E, com isto, se dará maior importância a cada ato vivido, a cada passo seguido, a cada respiro, a cada paladar experimentado, a cada som acolhido, a cada multiforma cores percebida, a cada aroma compartilhado, enfim, a cada sensibilidade sentida.

O “nada e tudo” têm uma relação íntima, pois o tudo só se dá a conhecer quando o ser humano de despoja do que pensa ser, pois é um nada diante do tudo. O tudo é quando o nada é.

As luzes das estrelas se manifestam quanto mais à escuridão se manifesta. Neste adverso do “tudo e nada” é que se pode depurar o que realmente permanece e é essencial para poder se afirmar que ai mora a felicidade.

Como um casal, que sabem que independente são tudo em si, mas ao se relacionar com a outra parte, percebe que é um nada e só será tudo ao se dar o direito de completar na outra parte.

Assim nesta antagônica festividade do “dia de todos os Santos” e o “dia dos Finados” surgem uma pergunta inquietante que só será respondida se o ser humano abraçar o nada no seu tudo e o tudo no seu nada.

 

(Autor Marcelo Telles – Bacharel em Teologia)

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